Crônicas do cotidiano: Não há por que não falar Dele
- Walmir de Albuquerque Barbosa
- 25 de abr.
- 3 min de leitura
Não há por que não falar sobre o Papa Francisco, pois o seu pontificado foi dedicado a falar de nós todos para Deus, às vezes, de uma forma quase desesperada, pedindo desculpas por nossas ignorâncias e bestialidades; outras vezes, pedindo misericórdia por defeitos insanáveis que cultivamos com o nosso egoísmo, nossa sede de poder e, sobretudo, pelo ódio contra os outros, quando nos achamos em condições superiores, o que nos permitiria ser até mais humanos. O Cardeal Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires, já era um homem interessante e um líder religioso diferente de muitos, sobretudo numa Argentina arrogante, com um povo que se autoidentifica como europeus que atravessaram os mares e estão aqui civilizando a América do Sul. O Papa Francisco, o mesmo Bergoglio que se tornou Bispo de Roma e Chefe Espiritual da Igreja Católica por 12 anos, encerra o seu pontificado de forma luminosa, mas num momento crucial para humanidade: momento de crise de liderança e com muitos disputando o lugar de “anticristo”, dentro e fora da Igreja Católica. O conclave, reunião de Cardeais Votantes para a escolha do novo Papa, ocorrerá daqui a poucos dias e a fumaça branca que sairá da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, onde ocorrerá a eleição, se revestirá de surpresas, como sempre, para os Católicos Apostólicos Romanos do mundo, pois um novo papa indica sempre tendências, rumos de autoridade, força espiritual e real no mundo em que vivemos, com muitos rituais e simbologias que trazem ao palco do cotidiano e dos costumes, a presença, de outros grandes credos religiosos. Mas, há também aqueles que usam as divindades e os momentos históricos para se promover e se fazem notar por uma agitação desrespeitosa; outros, alimentam esperanças desmedidas, ajuste mais contundente da Igreja à contemporaneidade; outros, ainda, apostam no retrocesso, por discordarem do quanto avançamos.
Não escondo minha admiração por alguns Papas, a começar por Leão XIII (1878-1903) e a sua Encíclica Rerum Novarum (1891), que sabia de cor e a carregava na algibeira. Quando criança, o Papa da época era o Pio XII, figura soberba, embora admirada até hoje nas Catacumbas Fascistas da Igreja que lutam para restaurar seu legado. Os padres e as carolas, seguindo seus ensinamentos, pregavam às criancinhas o ódio aos “comunistas”. Tempos de Guerra Fria, onde Ditaduras eram apoiadas pela Igreja Católica em muitos lugares do mundo. Ainda não entendia de geopolítica, mas, em Itacoatiara, os que frequentavam a Igreja aprendiam que os “comunistas matavam os cristãos entupindo a sua garganta com água quente”. Prova de que a Igreja se preocupava, também, com coisas que não eram do céu. E, por causa disso, na sucessão de Pio XII, por falta de consenso, foram buscar em Veneza o Cardeal Roncalli, de 73 anos, para ser um papa tampão. Inesperadamente, ao assumir como João XXIII (1958-1963), o franciscano se revela como o mais revolucionário dos papas da modernidade: convoca o Concílio Vaticano II, muda parte da doutrina da igreja e a coloca a caminho de um novo mundo. Com mão de ferro e muita graça, infringe aos conservadores as maiores derrotam que jamais esperaram: a Igreja Católica vira-se de frente para os fiéis falando a sua própria língua nas suas celebrações; toma posições políticas radicais ao assumir sua preferência pelos pobres e colocar-se contra as injustiças; e abre o diálogo com outras religiões. Paulo VI (1963-1978), que o sucede, leva a instituição a uma estabilização temporária. O revide dos inconformados com as reformas reaparece com a eleição de João Paulo II (1978-2005), que retoma a cruzada contra o comunismo, reforça a direita fascista da Igreja e sufoca o movimento eclesial fundado na Teologia da Libertação que atuava nos chamados países do “Terceiro Mundo”, onde a desigualdade e o colonialismo roeram os ossos dos pobres. Fez a limpeza teológica e política que a direita desejava e promoveu o capitalismo triunfante da Globalização, tendo como braço direito o Cardeal Ratzinger, que virou o Papa Bento XVI (2005-2013), este que, ao renunciar ao papado, abriu caminho para que Jorge Mario Bergoglio se tornasse o Papa Francisco, figura doce e divina, que agora, sob a admiração de todos os povos, deixa-nos órfãos de sua bendita liderança. Que descanse em paz e que Deus seja Louvado!

Jornalista Profissional.
Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.
Manaus (AM), 25/4/2025.
*Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano.
Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".
Confira no canal do EMERGE a entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09
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