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Foto do escritorWalmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: Pós-modernismo ou o mesmo de sempre

Inicialmente, tinha como ideia uma singela menção ao pensamento de Fredric Jameson, filósofo e crítico literário norte-americano que nos deixou no dia 22 de setembro passado. E por que ele? Talvez pelo sentimento besta que sempre tenho sobre tantas perdas de pessoas que deram  contribuições importantes para a humanidade, em especial, para o modo de pensar e ver as coisas do mundo, e imprimiram em mim um certo sentimento de pertença. Hoje, quando se desvirtuou o conceito de “narrativa” e o aproximou da mentira, da banalização descarada com o intuito de confundir, a seriedade do pensamento de Jameson vem em socorro à verdade ligando as formas de narrativa à história, pois tudo no mundo da cultura não se descola da história. Daí, mais uma importância a se dar a esse pensador marxista. Dele, em “As sementes do Tempo”, pesco uma afirmação luminosa: “Assim é que o fim do modernismo vem acompanhado não apenas do pós-modernismo, mas também do retorno da consciência de natureza em ambos os sentidos: ecologicamente, nas condições deploráveis em que a busca tecnológica de lucro deixou o planeta, e, humanamente, numa desilusão com a capacidade dos povos de mudar, de agir ou conseguir qualquer coisa substantiva em termos de uma práxis coletiva” (Fredric Jameson. As Sementes do Tempo. SP: Ed. Atlas, 1997, p. 62). Isso diz muito do que está acontecendo no momento em que escrevo: os efeitos climáticos adversos nos ameaçam expondo as entranhas da terra com a seca dos nossos rios e a triste predição de que não recuperaremos mais os seus mananciais destruídos pelo fogo, pela ganância e pelo descaso; os mísseis, como estrelas cadentes do mal, atravessam os céus do Oriente Médio como se sobrepairassem nossas cabeças e destroem as esperanças de convivência pacífica construídas na diplomacia e no empenho solidário para a superação das desigualdades. E tudo quanto parecia distante fica muito próximo, não só pela materialidade globalizada das relações econômicas, mas, sobretudo, pela dor, pelo alarido dos horrores e do realismo high-tech das imagens absurdas da guerra, espelhando a insanidade humana no cultivo e na expansão dos afetos de ódio.


A ideia de pós-modernismo não é consensual como datação histórica, civilizacional ou ideológica e até, como sinônimo, tem outra nominação, tida como mais precisa que é o “capitalismo tardio”, dando conta das primazias econômicas para abarcar o neoliberalismo e “as globalizações”. Entretanto, tornou-se o rótulo do nosso tempo e se presta, tal qual um biombo, para esconder os nossos fracassos. As maldades do mundo, como sempre, se devem ao desamor ao outro, à escassez de recursos para a sobrevivência de grandes contingentes humanos dispersos por todos os continentes, ao apego às particularidades de cada grupamento humano que vai racionalizando e justificando as diferenças que nos tornam verdadeiramente desiguais, mesmo nas similitudes. Era de se esperar que a Modernidade, que abarca o Mercantilismo, o Renascimento, o surgimento do Pensamento Científico, as Revoluções Tecnológicas, o Século das Luzes que foi o século XVIII e suas Revoluções Libertárias, trouxesse-nos: o discernimento necessário para nos beneficiar das utopias que nos brindaram com as esperanças de mundos melhores e imaginados; o aprimoramento dos sistemas e modos de produção e de vida social, influenciados por ideologias que prometiam prosperidade completa, fundadas numa segunda natureza, construída pela vontade humana e não mais pela vontade dos deuses. No entanto, essas narrativas, têm um defeito capital: elas, historicamente, foram construídas a partir de uma visão de mundo, de um lugar do mundo que não contemplava a todos do mundo desnudo que temos hoje, onde vivemos. E quando visões de mundo se chocam no campo concreto das vivências dos diferentes, as saliências não são das coisas que nos unem e sim das coisas que nos separam. E quando as que nos separam prevalecem, o caminho é a barbárie, que expõe o outro à subalternidade consentida  ou à humilhação pela Guerra.


A guerra, nos tempos pós-modernos, não é, tão somente para dominação; tomou, também, como modelo, a “guerra nazifascista”, que não se contenta, apenas, em vencer o outro e submetê-lo. Tem como objetivo exterminá-lo, por entender que ele não é um outro, é um diferente!



Jornalista Profissional.

Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.

Manaus (AM), 4/10/2024.

*Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano.

Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".

Confira no canal do EMERGE a entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09 

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