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Arte Viva: As fantasias amadianas e os fantasmas de Getúlio - arte, movimentos e políticas culturais em tempos varguistas

  • José Ribamar Mitoso
  • 20 de nov.
  • 2 min de leitura

Ao ouvir pergunta sobre os estilos de Jorge Amado, automaticamente  a mente simplista muda de assunto e entra na vida dele para satanizá-lo como comunista ou  santificá-lo como cronista da "Bahêa". Já percebeu isto, leitor? Já, leitora? É uma virtude nacional - confundir análise literária com fuxico ou palpite da bolsa de aposta. 


O xarope besteirol é o de sempre. "Foi um dos "maiores" (melhores) escritores brasileiros" , "o que esteve mais perto de "ganhar" (obter) o Prêmio Nobel" - ao gosto da realeza sueca e da bolsa de aposta. Entregam fuxico ou eco de marketing. Revelam até o abará que ele gostava e os bocejos na rede. Mas evitam os estilos.


Entre 1931 e 1946, Jorge Amado escreveu treze livros e  em três estilos realistas que legou para a humanidade. Neste período (1930-1945), Vargas liderou a revolução burguesa, golpeou a eleição presidencial de 1934 e implantou ditadura entre 1937 -1945. Neste mesmo tempo, queimou as obras, prendeu e exilou Jorge. 


Jorge foi um dos que fundaram o realismo proletário de heróis-proletários alienados que despertam e se organizam - de Cacau (1933) até Capitães da Areia (1937). Criou o realismo crítico de conflitos de classe na ascensão e decadência de  capitalismo agrário - Terras do Sem-Fim (1943) e São Jorge dos Ilhéus (1944).  


Ele também criou a vertente do realismo socialista que narra como personagem coletiva a luta de organizações revolucionárias em ação. Seara vermelha (1946) e Subterrâneos da liberdade I, II e III (1954). Ele ainda "abrasileirou" o realismo das culturas regionais. De Gabriela, Cravo e Canela (1958) até Tieta do Agreste (1977). 


A política cultural do Varguismo foi planejada com duas linhas de ações fundamentais - a organizativo-dirigista e a repressiva. A primeira para "estatizar" todas as expressões imateriais e manipulá-las como interessasse. A outra para oprimir as expressões espirituais indesejáveis. E até mesmo invadir a vida privada de artistas.


Em 1937, Vargas editou a Lei 378, que instituiu a linha organizativo-dirigista. O Estado passou a regular, organizar, controlar e moldar a criação cultural, a imprensa, a pesquisa e a memória. Em 1938, através do Decreto-Lei 526, criou um  Conselho Nacional  de Cultura  antidemocrático  para executá-la.


Em 1939, via Decreto-Lei 1949, ele instituiu a segunda linha de ação - a repressiva. Criou o departamento de censura e instalou a censura prévia sobre artes, diversões, festas populares, radiofonia, publicidade, turnês. Siimmm, leitor(a) - e o abará? E o bocejo ? E o Nobel e coisa e tal? Na próxima Arte Viva.


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Escritor, Dramaturgo, Professor da Universidade Federal do Amazonas e Doutor em Artes, Movimentos Culturais e Políticas Culturais no Brasil entre os séculos XVI e XXI.     

Rio de Janeiro (RJ), 20/11/2025.

*Toda quinta-feira publica no site EPCC sua Arte Viva

 
 
 

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