Arte Viva: Mucura me cura fofura - a arte indígena contemporânea e a antiga arte modernista da República Velha
- José Ribamar Mitoso
- 13 de nov.
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de nov.
O que foi escrito em panfleto de defesa das mamães gambás da Mata Atlântica em fase de gestação, serve para as mucuras Amazônicas. Ao ver uma mucura, não a maltrate. Lembre-se - também és feia(o), e nem por isto deves ser tratada(o) à base de pauladas. Entendeu , leitor? Estás ligada na fita, leitora? A Mucura virou arte.
Neste 15 de novembro, o artista multimídia Eric Max Baré lançará mais um clip do gênero musical que inventou. O clip da vez de seu ixé-pop Amazônico é o da música "Mucura". Bela homenagem poético-musical a esta anti-heroína cultural Amazônica. Não vamos tratá-la com pauladas. Mas com reflexão estética.
As estéticas atuais da arte brasileira ainda seguem os padrões criados nos séculos XIX e XX. Direi quais. Há também revoluções estéticas. É preciso colocar o fazer artístico brasileiro em perspectiva para entender o presente e por empatia
na visão. Há alguma verdade na ideia kantiana que o olhar põe beleza na obra.
D. João importou estéticas e impôs o padrão europeu. A antropofagia modernista devorou as estéticas europeias, desvirtuou as ancestrais e as fundiu. O nacional-popular afirmou a arte dos brasileiros, como samba. O internacional-popular aliou a arte nacional às estéticas transnacionais, como a Bossa Nova e o Cinema Novo.
A indígenofagia ancestral-contemporânea ultrapassou todos estas estéticas anteriores e revolucionou a arte latino-americana. Ela devorou a antropofagia. Anapuaka Tupinambá resume - ela "mastiga, recria e devolve o que foi engolido sem consentimento, e também
faz uma arte que não copia, mas corrige o olhar".
Exemplos. As artes visuais indígenas contemporâneas, que devoraram a antropogia visual modernista com o olhar e o fazer estético ancestral O teatro indígena mito-ritualístico, que revolucionou a forma e a linguagem teatral com a inclusão das expressões cênicas e coreográficas das festas e rituais indígenas.
O gênero musical ixé-pop, inventado pelo artista multimídia Eric Max, é parte dessas atitudes estéticas ancestrais-contemporâneas. Ele é parte do gênero Novo Canto Ancestral Internacional. Funde ritmos Amazônicos que Eric escutou da avó e do pai Baré na infância com a toada, o beiradão e o pop contemporâneo.
Como resultado da fusão, “Mucura” tem um ritmo de aproximadamente 116 BPM, em um compasso quaternário expandido (5/4 perceptivo), com uma batida fluida, que brinca entre o 4/4 e o 5/4. O clip "Mucura" será lançado dia 15. Vamos tratar o ixé-pop com o gosto refinado pela reflexão estética e não com pauladas. Ixé.

Autor: José Ribamar Mitoso
Escritor, Dramaturgo, Professor da Universidade Federal do Amazonas e Doutor em Artes, Movimentos Culturais e Políticas Culturais no Brasil entre os séculos XVI e XXI.
Rio de Janeiro (RJ), 13/11/2025.
*Toda quinta-feira publica no site EPCC sua Arte Viva.

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