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Arte Viva: A antropofagia cultural latino-americana foi "devorada"pela inteligência crítica de artistas indígenas contemporâneos - arte na República Velha 2

  • José Ribamar Mitoso
  • 6 de nov.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de nov.

É batata. Quero é ver. Na era do primitivismo digital, ao  se perguntar sobre o estilo  de qualquer artista,  automaticamente o pêndulo da mente  simplista muda de assunto e flutua entre satanizá-lo por algum erro ou  santificá-lo por algum gesto altruista. Já percebeu isto, leitor? Já, leitora? 


Há muito tempo evito escrever sobre arte por isto.. É inutil tentar educar o gosto tolo.E os Apps detectores de plágio e IA também desestimulam a filosofia da arte. Textos sobre  arte  possuem quase sempre escores de 80% de plágio e IA para o App  vender o corretor. A IA quer "iaiá". Sou "ioiô". Até meu nome apareceu como IA. Golpe. 


Escrevi aqui na Arte Viva que o Manifesto Antropofágico, de Oswald'e Andrade,  de maio de 1928, influenciou o decreto de Washington Luiz, de julho de 1928, que criou a primeira  regulação da relação capital/trabalho cultural na América Latina.  É fato. Mas  enquanto  manifesto estético, ele não foi inaugural na América Latina.


Há um certo consenso que a contracolonização cultural latino-americana começou no século XVII, com algumas expressões barrocas. E que o modernismo começou em 1888, com o livro de poemas e contos Azul, do nicaraguense Rubén Dário, e com o ensaio identitário Nuestra América (1891), do cubano José Martir.


O Manifesto Antropofágico (1928)  teria sido antecedido pelo ensaio "Ariel" (1900), do escritor uruguaio José E. Rodó. E Macunaíma (1928) e Cobra Norato (1931) seriam obras antecedidas por O Espelho d'Água (1916), de Vicente Huidobro, poeta chileno, e pelos  Contos da Selva (1918), de Horâcio Quiroga , escritor uruguaio. 


Justa ou não,  leitora, leitor,  esta cronologia academicista é desimportante  para a crítica à estética antropofágica brasileira e latino-americana feita por artistas indígenas contemporâneos. Houve um  inversão de posições. A antropofagia modernista que "devorou" sem licença,  agora é  "devorada" pelos "devorados"..


Os indígenas agora mastigam o modernismo com suas estéticas ancestrais.O gosto viciado em consumir Tarsila como dogma metafísico, agora quase pira ao ver o Tupinambá encarar o Manifesto Antropofágico ou ver a cabeça de Mário de Andrade em uma bandeja em quadros de Denilson Baniwa. 


O velho gosto não sabe se elogia, se pede perdão ou  nova identidade. Eliane Potiguara, Dauá Puri, Anapuaka Tupinambá, Eric Max Baré, Lúcia Tucuju,Tsara Kokama, Giu Maué, Tecoara Baré, Bete Desana, Wanglêys Manau, Cris Pantoja,Romão Kariri,  Daniel Munduruku fazem esta identidade. Desculpem-me as ausências.

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Escritor, Dramaturgo, Professor da Universidade Federal do Amazonas e Doutor em Artes, Movimentos Culturais e Políticas Culturais no Brasil entre os séculos XVI e XXI.     

Rio de Janeiro (RJ), 06/11/2025.

*Toda quinta-feira publica no site EPCC sua Arte Viva. 

 
 
 

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