Crônicas do cotidiano: A pedra será cantada, mas a galinha do bingo está podre
- Walmir de Albuquerque Barbosa
- 21 de fev.
- 3 min de leitura
A esquerda anda tonta, a direita é oportunista e o terrorismo da extrema direita mela o bingo do arraial colocando, em lugar do frango assado, em prêmio, uma galinha podre! O noticiário da semana vai nesse tom de conversa. Mas a questão é mais complexa e não cabe tratá-la desta forma, embora o frango assado do Bingo já não seja o mesmo. E a galinha podre? É a ameaça de Golpe!
Consultei meus oráculos, inclusive aquele “Espelho Cristalino que uma baiana me mandou de Maceió”, para entender a situação imaginosa tratada pela “Teoria da Conspiração” em voga no jornalismo brasileiro empenhado na derrocada do atual Governo. Outrora, para evitar que chegássemos a tanto, os que zelavam pela liberdade de imprensa, criaram a figura do “Ombudsman”, com autoridade moral para exigir um comportamento ético, tanto da empresa jornalística, quanto de jornalistas e articulistas que se desviavam da decência. Algumas ainda os mantêm como peças decorativas. Chegamos a ter um “Observatório de Imprensa” (1996-2018), criado e dirigido por Alberto Dines (1932-2018), com o objetivo de ser “uma antologia crítica de mídia no Brasil”. Nos idos de 1999, Fernando Pedreira (1926-2020) já nos alertava que “a velha bazófia, a antiga pretensão de falar em nome da nação e do povo, acabou...Por trás da mídia, entretanto, pendurado em suas ilhargas, se esconde um outro poder menos ideal (ou ideológico) e cada vez mais atuante e mais terrível. São os senhores de quase tudo; os pilotos dessa imensa máquina voadora, dessa fabulosa ‘ciranda financeira” (Summa cum laude: um Ensaio Sobre Sentido do Século. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999, p.60). A mídia, que dizia falar pelo povo passou a “falar por si mesma” e agora fala em nome do “mercado”, na língua inteligível da manipulação do povo. Portanto, antes de tratarmos dos posicionamentos ideológicos dos cidadãos e dos partidos políticos que os representam na gestão da coisa pública, há que atentar para interesses mesquinhos que se dizem não ideológicos, apolíticos, moralistas nos costumes e que consagram a competência técnica, a neutralidade, a meritocracia e o direito ao enriquecimento dos “melhores” na disputa e no usufruto dos bens. Para atingir tais objetivos a mídia engajada cria “estórias” e distorce fatos.
A “Teoria Conspiratória do Isolamento do Presidente da República” como causa de todo o problema do país é um exemplo na Agenda Midiática. É uma formulação teórica descabida, fundamentada no resultado da pesquisa de opinião apontando a queda da popularidade do Presidente. Isso permite abrigar na mesma narrativa: a incapacidade governativa do Executivo e uma nova partilha de poder ou até o Semipresidencialismo; a pregação da perda de carisma do presidente, prisioneiro de um grupo que o esconde do povo para impedi-lo de concorrer a uma reeleição mal sucedida; evocação ao etarismo; insinuação de que a Primeira-Dama pleiteia a vaga nas futuras eleições; eliminação de lideranças não vinculadas aos interesses do “mercado”; povo na rua; anistia a golpistas; impeachment. Tudo isso porque os bons resultados econômicos apresentados teimam em desmoralizar os arquitetos de tragédias na imprensa e no “Focus” especulativo do mercado. Isto alivia a barra do governo e alegra os que torcem pelo Brasil? Não! Dá mais medo! Um terço do eleitorado brasileiro “amancebou-se” com o fascismo, alguns por desconhecimento dos seus efeitos deletérios, grande parte já o trazia de berço, outros, por oportunismo ou inculcação religiosa. A direita é uma massa amorfa que quer se dar bem sempre e na sua formação política não alcançou os princípios humanísticos do liberalismo político como doutrina. Portanto, a direita e a extrema direita gostam dessas teorias. Por sua vez, a esquerda está confusa mesmo: cansada de perseguir seu destino enfrentando pontas de facas; não renovou o seu pensamento sobre o mundo do trabalho, que é o seu berço, em busca de uma sociedade mais justa; perdeu-se em causas difusas que extrapolaram a sua capacidade de organização e luta por dizerem respeito a todas as classes sociais; e murchou. Quanto aos jornalistas que se dizem “imparciais” e comentaristas políticos e econômicos pregadores da insensatez, arrisco dizer, com tristeza: perdem a dignidade e a vergonha incensando ego do “mercado”, de seus patrões e dos golpistas. Perderam o profissionalismo!

Jornalista Profissional.
Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.
Manaus (AM), 21/2/2025.
*Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano.
Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".
Confira no canal do EMERGE a entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09
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