top of page
Buscar
Foto do escritorWalmir de Albuquerque Barbosa

Crônicas do cotidiano: Revisionismo Perverso

Matéria jornalística de 12/10/2024, assinada por Cláudia Collucci na Folha de S. Paulo, traz o

pensamento de Ermínio Fraga, um dos mais festejados economistas brasileiros tanto pela direita quanto pela centro-esquerda (se é que existe isso), onde o mesmo afirma não acreditar que seja possível voltar ao modelo original do SUS (Sistema Único de Saúde): “Acho que seria mais fácil caminhar para um modelo que seja mais um híbrido de alguns modelos europeus”. E, mais adiante, na mesma matéria, “uma coisa é o Estado bancar certos custos, outra é o Estado fazer a Gestão. Então, onde é possível terceirizar, delegar, vale a pena explorar, diz ele”. Com os créditos e agradecimentos à Folha, “respeitável público”, estamos diante da maior ofensiva sobre o nosso maior patrimônio, garantido pela CF de 88, o SUS. O “renomado economista” tem todo o direito de pensar à direita, mas soa estranho esse revisionismo, venha de que lado vier, que tenta suplantar a utopia e ideais do

Estado de bem-estar social que trafegaram pelas hostes do poder no Brasil e nos deram: o SUS; a Educação Pública e de Qualidade “como direito do cidadão e dever de Estado”; e a garantia dos “direitos fundamentais”. Todos inscritos no Artigo 5. da Constituição. Não faço exceções do tipo: “parte dos economistas não aceitam o Estado como indutor do desenvolvimento”; “grande parte dos médicos não vê a doença como mercadoria”. Não é destratar profissionais de determinadas categorias por estarem mais ou menos envolvidos com o mercado. A questão é ideológica, é da primazia do capital sobre todos os interesses da sociedade e a difusão que ideólogos fazem de que o Estado esgotou o seu papel e deve intrometer-se muito pouco nas questões em que a “inciativa privada” tem competência para fazer e o individualismo pode sobrepor-se às iniciativas coletivas. Essa pregação ideológica, que não se apresenta como tal, financiada pelo capital, vem influindo nas estruturas da

sociedade, sobretudo, daquelas que não passaram por todas as fases do processo capitalista de produção e não construíram sólidas camadas de classe trabalhadora. Dependendo da formação social, o neocapitalismo alia-se a grupos sociais que têm interesses conservadores extremos e certa capilaridade sobre grandes contingentes populacionais, ganhando, assim, força e espaço para reproduzir-se com rapidez.


Não importam os avanços reconstrutivos da economia nos moldes da “boa gestão” do

liberalismo econômico que o atual governo brasileiro se esmera em realizar. O problema é que, mesmo assim, por ser feito sob a égide do Estado, desagrada ao agronegócio, ao capitalismo financeiro, aos latifundiários e ao contingente de contraventores que integram o lupem empresarial da “bandidagem”. Todos querem o Estado bem longe ou para si: para não pagar imposto justo; para impor suas próprias regras; para impedir gastos do estado com os mais pobres e miseráveis; e, no extremo, para falcatruar com negócios escusos. Isso abre, também, espaço para os que, inoculados pela ideologia neoliberal, acreditam piamente no “empreendedorismo”, que mascara o desemprego com a precariedade do trabalho e enfraquece a classe trabalhadora; que não pensa no futuro, mas no somente agora e entregará uma massa de fracassados, sem aposentadoria e sem poupança para

sobreviver. Não se trata de enaltecer o Estado gestor a qualquer custo, mas reconhecer que, sem exercer o seu papel regulador, todos ficam fragilizados e nas mãos dos que podem mais, dos que querem mais, dos que pensam somente em seus interesses e pregam a prosperidade como primícias.

O caso Brasileiro é bem esclarecedor para o que preconiza o ilustre entrevistado pela Folha:

todos esses “grandes economistas” passaram pela máquina do Estado e foram autores de projetos que revolucionaram a economia brasileira, que não é desprezível, pois hoje voltou ao oitavo lugar como economia do mundo. Todos são da iniciativa privada, de onde vieram e para a qual voltaram e influenciam o “Boletim Focos”, do Banco Central do Brasil, que dita o rumo dos juros, municia a grande impressa na pregação do “terrorismo econômico” e, com ar de seriedade, parecem torcer pela desgraça e o infortúnio, como se ventríloquos fossem dos que querem apunhalar a Constituição Cidadã, remendando-a a seu modo ou trocá-la por outra que anule nossas conquistas!



Jornalista Profissional.

Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.

Manaus (AM), 18/10/2024.

*Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano.

Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".

Confira no canal do EMERGE a entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09 

50 visualizações0 comentário

Comentários


bottom of page