Arte Viva: As fantasias literárias de Jorge Amado e os fantasmas da política cultural de Getúlio "estado novo" Vargas - 2
- José Ribamar Mitoso
- 27 de nov.
- 2 min de leitura
Simmmmmm - é verdade, leitor(a). Apalavrei escrever sobre o abará que Jorge Amado amava, sobre seus bocejos na rede - simmmmmm e sobre o "quase obter" o Prêmio Nobel, de estar entre os melhores escritores e tal e lousa. Papo de comadres futriqueiras. Mas vamos combinar - este site é acadêmico. O papo é outro.
E Ah! Simmmmmm, leitor(a). Jamais brigaria com os fatos. Jamais fui ou serei misólogo, negacionista. E admito que, através de Vargas, e com o saldo positivo da exportação de café pela oligarquia agrária da República Velha, a burguesia elaborou exitoso plano nacional-desenvolvimentista independente.
Mas o Brasil é muito louco. Esta mesma burguesia nacionalista instaurou uma das ditaduras do pré-segunda guerra mundial e tocou o terror. E o terror alcançou a obra e o corpo de Jorge. Ele já havia criado o realismo proletário, de heróis-proletários alienados que despertam e se organizam. De Cacau(1933) a Capitães da Areia(1937).
A República Vargas (1930-1937) prendeu Jorge em 1936. Em 1937, Jorge lançou "Capitães da Areia", e Vargas golpeou a Constituição de 1934, e instalou o " Estado Novo". Mas, de boa, este lero-lero pela-saco é apenas para dizer que neste contexto emergiu o texto Jubiabá (1935), o melhor da fase realista proletária.
Melhor? Singular. Pacto ficcional é um acordo entre leitor(a) e obra para tratar o universo literário como irreal. Nele nada é verdade. Jubiabá é irreal. Mas diferente de todos os romances desta fase, Jubiabá não é o herói-proletário alienado que desperta e organiza a luta. Ele é o sacerdote yorubá que conscientiza o proletário para lutar.
O conteúdo é o mais cultural da série de romances realistas proletários. Ele incluiu na luta de classes racismo, violência urbana, sincretismo, religiosidade afro, consciência étnica, capoeira, carnaval, rodas de samba e ABC, cordelistas, repentistas, encantaria popular, superstições, boemia, humor, identidade popular brasileira.
A estratégia narrativa que permite que este conteúdo vire forma, arte, é a de "romance de formação do herói popular”. Ela narra a trajetória do herói-proletário Balduíno, desde a infância, vítima da desigualdade e do racismo, até sua politização e luta revolucionária. O herói mutável como forma estética e estilo.
É ficção, mas Salvador é o ambiente sócio-cultural. Ele guarda os conflitos da trama. E as vozes das personagens que o habitam expõe o confronto ideológico na fala de trabalhador@s, de patrões, de religiosos, de artistas, de cordelistas, da malandragem e do herói. Ligou, leitor(a)? Ainda Jorge na próxima Arte Viva.

Autor: José Ribamar Mitoso
Escritor, Dramaturgo, Professor da Universidade Federal do Amazonas e Doutor em Artes, Movimentos Culturais e Políticas Culturais no Brasil entre os séculos XVI e XXI.
Rio de Janeiro (RJ), 27/11/2025.
*Toda quinta-feira publica no site EPCC sua Arte Viva.



Comentários