top of page

Crônicas do cotidiano: Um “Oriente” cada vez mais próximo

  • Foto do escritor: Walmir de Albuquerque Barbosa
    Walmir de Albuquerque Barbosa
  • 14 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

Nossas tentativas de aproximação com o Oriente foram sempre marcadas por preconceitos, pavores estranhos e até mesmo uma certa xenofobia nos últimos tempos. De onde essas coisas vêm? Como lograram “credibilidade” entre nós? Quais têm sido os efeitos sobre nossas relações internacionais? E o que pode mudar com a nova geopolítica da “desglobalização das cadeias produtivas”? É claro que seria pretensão demais discorrer sobre todas essas questões, tanto pela complexidade que envolvem, quanto pela especialidade de conhecimentos que exigem. Contudo, trago-as como questões próprias do momento e que precisam ser referenciadas e levadas a sério, porque as coisas estão mudando na geopolítica mundial. E, cada vez mais, nossa economia se vê dependente dessas novas relações político-econômicas com esse “Oriente”, bem diferente daquele criado pelo Colonialismo.


Os primeiros chineses chegaram ao Brasil vindos de Macau, ex-possessão portuguesa na Ásia, junto com presentes de ouro e sementes de chá, dadas à Coroa Portuguesa, fugida de Lisboa. Nos meados do século passado, o “Perigo Amarelo” foi objeto de discussão intensa, não só pela ascensão do Comunismo Chinês e o nascimento da República Popular da China (1949), quanto pelo fato de ter sofrido uma campanha nacional, promovida por Arthur César Ferreira Reis (1906-1993) - escolhido Governador do Estado do Amazonas pela Ditadura -, e o Senador Antovila Rodrigues Mourão Viera (1900-1963) que se opunham à “Ocupação da Amazônia” por estrangeiros, em especial japoneses e chineses, ambos inspirados nos pensadores reacionários Oliveira Lima, Sílvio Romero e Euclides da Cunha, os mesmos que emprestaram seus fundamento ideológico à política da Ditadura na Amazônia Brasileira, cujos slogans circulantes falavam: “Integrar para não entregar” e “Trazer homens sem terras do Nordeste para as terras sem homens do Norte”, coisas ridículas assim, que explicam, em parte, nossas tragédias. No momento da Renúncia de Jânio Quadros à Presidência da República, seu Vice, João Goulart, encontrava-se em visita à China. Imprensa, Igreja Católica e Partidos Políticos de direita, com a retaguarda das Forças Armadas, unem-se sob pretexto de que haveria uma trama para instaurar o Comunismo no Brasil e impediram, assim, a posse de Jango. A solução foi uma mudança constitucional que nos levou ao Parlamentarismo, o “ovo de serpente” do Golpe Militar de 1964. Paradoxalmente, foi ainda na ditadura, em 1974, que o Brasil reconheceu a República Popular da China: as relações diplomáticas tomaram o rumo da normalidade; surgiram projetos de cooperação e chegamos às exitosas trocas comerciais que asseguram, hoje, altos rendimentos à nossa balança comercial; e a presença da China em vários negócios da economia brasileira, inclusive na Amazônia.


Enquanto potência econômica, prestes a superar os Estados Unidos da América, e como articuladora de tendências que podem levar ao rompimento das atuais relações de poder mundial, não faz sentido ficar longe desse jogo, até porque a China tem interesses visíveis na economia brasileira. No entanto, o trato com os imperialismos merece os devidos cuidados, coisas que nem sempre a conjuntura de crise vivida pelo capitalismo permite levar em conta. O ideário político parece ser o que menos importa. Vale mais a capacidade de negociação entre as partes para preservar interesses econômicos que devem ficar à margem do pragmatismo - muito exaltado nas relações internacionais. Além disso, devemos rever a nossa visão de “Oriente”, herdada dos Europeus no seu processo de dominação sobre os povos e que os consideravam inferiores e da visão imperialista americana, que tinha na região o seu ponto de apoio para sustentação da Guerra Fria. O “Império do Meio”, como já foi conhecido, parece estar pronto para retomar a sua posição de centro do mundo, não mais pela “Rota da Seda”, mas pela “Rota das Novas Tecnologias” e das mudanças mais avançadas que o “capitalismo de estado” logrou alcançar. E que, certamente, assombraria os marxistas ortodoxos, que da China esperavam a vitória definitiva da doutrina.

Autor: Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa Jornalista Profissional. Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas. Manaus (AM), 14/04/2023. *Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano. Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".

Confira no canal do EMERGE sua entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page