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Arte Viva: Chiclete com banana Brasil (Pluralidade estética, movimentos culturais e políticas culturais na democracia brasileira pós-guerra)

  • José Ribamar Mitoso
  • há 3 dias
  • 2 min de leitura

"Dedico este artigo ao filme Rio 40º.

Censurado porque, segundo a 

censura, a sensação térmica  da  

cidade nunca teria atingido os 40 

graus do título"

                                   

Leitor(a), direto aos finalmentes e sem entretantos. Nas relações entre arte, movimentos e políticas culturais, desde a Confederação  dos Tamoios, no século XVI, quase sempre estes movimentos foram contra o poder. E nenhuma invenção estética inaugural  nas artes surgiu a partir do estímulo estatal. Pelo contrário. Saco.


Neste contexto de fim do Estado Novo e democratização pós-II guerra, por exemplo. Em 1942, escritor@s fundaram a Associação Brasileira de Escritor@s contra o autoritarismo cultural “estadonovista”. Em janeiro de 1945, em São Paulo, realizaram o I Congresso Brasileiro de Escritores. Em outubro do mesmo ano, Vargas foi deposto.


Em entrevista à Folha Carioca, em 1944, a  escritora Lia Correa Duarte disse: "Que ninguém imagine que essa reunião seja um pretexto para conversinhas, troca de amabilidades, chás, coquetéis,  banquetes e questõezinhas pessoais.Os temas são: direitos autorais, liberdade criativa, democratização cultural, luta antinazismo."


Em 1946, Jorge Amado lançou Seara Vermelha (1946), sem apoio estatal. Através da estética  internacional-popular, ele uniu o realismo russo à luta popular brasileira e criou um tipo original de realismo socialista. A personagem coletiva é um grupo revolucionário em ação.A trama tensa de eventos/vozes dinamiza o enredo.


A partir daí, até o golpe militar, o Estado instituiu políticas culturais fragmentadas para si. Lei 1.597/51(Vargas), apoio a entes culturais estatais.Lei 2.597/55 (Café Filho), criou o Instituto de Cinema Educativo.  Decreto 38.508/55 (Juscelino), financiou a mídia.Decreto 50.293/61(Jânio Quadros), incluiu entidades  no Conselho de Cultura.


Nenhuma estimulou os movimentos e as estéticas inaugurais. Mas surgiram. Cinema novo. Rio 40°. Também através da estética internacional-popular, fundiu o neorealismo europeu com a realidade brasileira. Câmera naturalista, móvel, enquadramentos espontâneos, montagem fragmentada com visão documental múltipla da realidade.


A Bossa Nova. Sob a estética internacional-popular, fundiu o samba-cançāo com o cool jazz e a música impressionista. “Chega de Saudade”, na gravação de João Gilberto, em 1958, instituiu a batida sincopada, harmonias de acordes com tensões (9ª, 11ª, 13ª) e melodias lineares sem grandes saltos.


"Chiclete com Banana" (1958), de Gordurinha. Samba-manifesto da estética nacional-popular contra a estética internacional-popular de Jorge Amado, cinema novo e bossa nova. Samba a favor do samba (e da arte) livre da influência de ritmos estrangeiros. A relação arte, Estado e mercado é jogo sem regra estética.Pila.

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Escritor, Dramaturgo, Professor da Universidade Federal do Amazonas e Doutor em Artes, Movimentos Culturais e Políticas Culturais no Brasil entre os séculos XVI e XXI.     

Rio de Janeiro (RJ), 4/12/2025.

*Toda quinta-feira publica no site EPCC sua Arte Viva

 
 
 

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