Mídia no Brasil: Democratizando a mídia na educação brasileira
- Eula D.T.Cabral

- há 5 dias
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É possível democratizar a mídia na educação brasileira?
Para responder essa questão, precisamos entender como podemos atuar. Nós trabalhamos com a área de Economia Política da Comunicação, da Cultura e da Informação (EPCCI) nas nossas pesquisas por que possibilita análises com viés crítico/analítico, verificando os “mercados midiático e cultural brasileiro, assim como a regulação promovida pelo Estado, a partir da movimentação entre os diversos setores da sociedade”, além de compreender o jogo empreendido pelos atores sociais e a atuação da sociedade civil, fornecendo subsídios mais estruturados para uma melhor compreensão das reais capacidades da sociedade de poder dar as cartas e fazer valer suas necessidades, afirmando a comunicação e a cultura como direitos humanos em prol do interesse público (Cabral, 2019, p.169). Isso é algo que constatamos em nossos estudos publicados na obra Desafios das políticas de comunicação (Cabral, 2019).
É fundamental entender que, nas instituições de ensino, pesquisa e cultura, deve-se trabalhar com a EPCCI nos estudos sobre transformações tecnológicas e seus impactos no mercado e na entrada dos novos e diferentes atores. Na obra Comunicação e cultura no Brasil: diálogos com a Economia Política da Comunicação e da Cultura, Cabral Filho e Cabral (2018, p.16) identificaram em suas pesquisas que “dinâmicas de produção, circulação e consumo de conteúdos e os negócios estabelecidos em torno de tecnologias como a internet, a digitalização das comunicações e suas implicações na configuração de novos cenários” precisam levar em consideração o capitalismo contemporâneo, compreendendo “as nuances de sua lógica para melhor assimilar seus impactos”. No Brasil, de acordo com as pesquisas do IBGE, o brasileiro é um grande consumidor midiático e, ao mesmo tempo, não estuda o suficiente na escola. Apenas metade da população concluiu o Ensino Básico. Logo, muitos se deixam levar pelo que leem, veem ou escutam nos meios de comunicação e na web. Nesse cenário, um dos principais desafios que nós temos é democratizar a mídia brasileira. Diante disso, Cabral e Cabral Filho (2024, p. 16), em seus estudos publicados em Democratização da Cultura, da Comunicação e da Informação na era digital verificaram que, para se democratizar a mídia no Brasil, deve-se levar em consideração a "reformulação das políticas públicas, a apropriação das novas tecnologias pela sociedade, a diversidade de produtores capacitados e qualificados para acessar e exercer o controle sobre os meios de grande circulação, a implementação de meios locais e comunitários e a defesa da comunicação, da cultura e da informação como direitos de todos”.
Mas, a democratização da mídia na educação só será possível se a sociedade civil entender sua importância e papel. De acordo com Cabral Filho e Cabral (2018, p.17), na obra Comunicação e cultura no Brasil: diálogos com a Economia Política da Comunicação e da Cultura, “a sociedade civil é, portanto, uma alternativa viável de produção de novas hegemonias emancipatórias”. Assim, é preciso “compreender a composição e orientação do que se tem por sociedade civil, sua consequente visão de transformação do Estado e a elaboração de leis mais democratizantes e estruturas cogestionárias como resultados e não causas da mobilização de organizações e movimentos civis”.
Logo, precisamos encarar os cinco desafios que temos e que foram analisados nestas últimas semanas: 1. Reformulação das políticas públicas 2. Apropriação das novas tecnologias pela sociedade
4. Implementação de meios locais e comunitários 5. Defesa da comunicação, da cultura e da informação como direitos de todos
Mas, como colocá-los em prática na área educacional? Como democratizar a mídia (meios que controlam a cultura, informação e comunicação) na educação brasileira? Vamos ao primeiro desafio: Reformulação das políticas públicas (Cabral, Cabral Filho, 2024). Ele será encarado quando entendermos que a educação é fundamental para o desenvolvimento do cidadão . Quanto mais estudar, mais conhecimento e posicionamento crítico terá. Ninguém pode ignorar o fato que o conhecimento/estudo leva ao domínio de técnicas, normas etc. Logo, é preciso aprender a utilizar a tecnologia como instrumento para auxiliar na educação. No que tange ao segundo desafio, Apropriação das novas tecnologias pela sociedade (Cabral, Cabral Filho, 2024), é preciso entender como funciona cada dispositivo (celular, computador etc) e saber usá-lo. Não adianta dar/ter uma tecnologia sem conhecê-la. A área educacional precisa promover cursos e mostrar como funciona e o tipo de conteúdo que circula; quem faz e pode fazer e como é feito o conteúdo. Afinal, sem conhecimento, há manipulação e pessoas são enganadas.
Sobre o terceiro desafio, Diversidade de produtores capacitados e qualificados para acessar e exercer o controle sobre os meios de grande circulação (Cabral, Cabral Filho, 2024), identificamos que nossas crianças e jovens precisam dominar as novas tecnologias e criar aplicativos e jogos. A escola é o lugar que precisa ensinar tecnicamente e criticamente/analiticamente. O aluno precisa dominar a tecnologia e colocá-la ao serviço da educação de qualidade.
O quarto desafio, Implementação de meios locais e comunitários (Cabral, Cabral Filho, 2024), chama atenção para o fato que nossas crianças e jovens precisam entender a importância dos meios locais e comunitários. Eles precisam valorizar os meios locais e comunitários, criar conteúdos de qualidade, valorizar sua comunidade e usar a tecnologia a favor de meios que auxiliem na melhoria da vida da comunidade.
E sobre o último desafio, Defesa da comunicação, da cultura e da informação como direitos de todos (Cabral, Cabral Filho, 2024), é importante relembrar a todos os brasileiros que a Constituição federal (1988) garante a cultura, a comunicação e a informação como direitos de todos os cidadãos brasileiros. Hoje a mídia está nas mãos do mercado, mas é preciso que a sociedade reivindique meios democráticos e a serviço dos brasileiros. Se as crianças e os jovens brasileiros tiverem conhecimento, terão uma vida muito melhor! É possível democratizar a mídia (meios que controlam a cultura, informação e comunicação) na educação brasileira. A escola, a universidade e todas as instituições de ensino e pesquisa precisam ter comprometimento e compromisso com a sociedade e com ensino de qualidade. As crianças, os adolescentes e os jovens brasileiros são o futuro do país. Não podemos perdê-los! Precisamos investir no conhecimento.
Nós não podemos permitir a manipulação e a falta de diversidade cultural e de conteúdo na mídia. É hora de mudar e agir. É hora de investir e compartilhar conhecimento com a sociedade!

Autora: Eula D.T. Cabral
Doutora e Mestre, com pós-doutorado, em Comunicação Social.
Autora da obra Concentração da mídia no Brasil: radiodifusão e telecomunicações (2023).
Rio de Janeiro (RJ), 3/12/2025. Veja também o capítulo "Comunicação, cultura e informação como direitos humanos" publicado na obra Comunicação, Cultura e Informação em perspectiva (2020).
*Mídia no Brasil é publicada toda quarta-feira no site EPCC.

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