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Crônicas do Cotidiano: A perplexidade continua

  • Foto do escritor: Walmir de Albuquerque Barbosa
    Walmir de Albuquerque Barbosa
  • há 3 dias
  • 3 min de leitura

Começamos o ano falando da perplexidade dos não perplexos, que seriam aqueles que, vivendo somente as coisas do cotidiano esquecem da reflexão e, de repente, veem-se obrigados a abrir os olhos e deparar-se com um mundo que os surpreende ou os assombra. Uma das funções do jornalismo é despertar essas perplexidades, quando feito dentro dos conformes. A perplexidade continua como um bom sinal, sinal de que teremos um amanhã, que vencemos dificuldades, embora não tenhamos resolvido a totalidade dos problemas, é fato, mas nada se faz da noite para o dia.


O ano foi dos “economistas malvados”, parte dos profissionais que se dedicam ao estudo da economia e que juraram, assim como os demais e todos nós de outras profissões, trabalhar pelo bem da humanidade, no ato de formatura. São, apenas, aqueles que foram se degenerando pelas circunstâncias da vida, influenciados pelos senhores a quem fazem opção por servir ou, ainda, coagidos pela necessidade do emprego e decidem fazer o contrário. Deliberadamente, eles infernizaram nossas expectativas, alimentaram ilusões na cabeça dos não perplexos e causaram uma imensa dor destruindo planos, contribuindo para a depressão e, em alguns momentos, como os profetas escatológicos do Velho Testamento, pregaram a conversão antes do fim do mundo, caso não houvesse “corte de gastos com os mais pobres”. E chegamos até aqui: erraram na projeção do PIB, que seria negativo e virou “pibão” apesar das circunstâncias; a renda média dos brasileiros passou dos mil e quinhentos reais para os três mil e quatrocentos reais; a menor taxa de desemprego já vista, desde que se começou a medir desemprego no Brasil; as reservas cambiais continuam intatas como lastro para os negócios; a inflação se aproxima da meta; o país deixou o mapa da fome para trás; a “Faria Lima”, de barriga cheia, aplaude a Bolsa batendo os 160 mil pontos e Dólar estabilizado, mesmo com os soluços do mercado de moedas; a indústria cresceu, apesar da sugestão dos economistas para que entrasse em recessão e desempregasse o povo e os industriais aplicassem suas “mufumbas de mais valia” na “ciranda financeira”; a maior safra de grãos e alimentos diversos; e tudo seria melhor sem a alta SELIC do Banco Central, essa entidade sequestrada pelo “mercado” sob a farsa da autonomia; o povo nos shoppings, fazendo aquele crediário de 12 vezes no cartão como quem acredita no amanhã; a COP30 aconteceu, houve um princípio de incêndio e a ONU reclamou de segurança porque sua cabeça continua em Dubai; e a tal insegurança jurídica, tão alardeada pelos mercadólogos, que afastaria os investidores com medo dos superpoderes do STF se amainou e quem tinha que ser condenado e preso já está, quem precisava ser encontrado pela polícia, se não o foi já se sabe o paradeiro; e por fim, uma astuciosa caravana da Polícia Federal rompeu as muralhas da Faria Lima e passou o rodo nas Fintechs suspeitas de lavar dinheiro para o PCC; e, depois de tanta indecisão, o Banco Central decretou a falência do Banco Master, que mais parecia uma holding da malandragem combinada entre investidores gulosos, políticos corruptos e lobistas competentes; as sobretaxas de Trump caíram. Com a reputação em baixa, economistas que passaram pelos órgão financeiros da República em altos cargos e fazem hoje  a mercância gerencial dos Fundos da Alta Burguesia Rentista (aquela que diz que manda e manda mesmo escondida no anonimato ou no sobrenome se ninguém a desafia) atribuem os sucessos às variáveis externas ao governo e, vergonhosamente, agora fazem previsões catastróficas para 2027.


O grande imbróglio a ser resolvido está, portanto, nas mãos do povo, mas nos deixa perplexos: as tentativas de usurpação de poderes, hoje, tendo como epicentro parte dos nossos representantes no Congresso Nacional dando abrigo a tentativas de golpe. Chamar a Polícia não se pode; insuflar o STF com insinuações que afrontem a independência dos poderes da República não é certo; pregar o confronto entre o executivo e legislativo compromete as políticas públicas e anima uma briga de malucos. O que fazer? Resta-nos o Estado Democrático de Direito e a Democracia: pressionar com todos os meios legais os indignos que fraudarem o sagrado dever da representação e usarmos a arma do voto, que ainda é nossa, na hora oportuna. E isso não é pouco!

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Jornalista Profissional.

Professor Emérito e ex-reitor da Universidade Federal do Amazonas.

Manaus (AM), 5/12/2025.

*Toda sexta-feira publica no site EPCC suas Crônicas do cotidiano.

Confira na obra "Trajetórias culturais e arranjos midiáticos" (2021) seu capítulo "Comunicação, Cultura e Informação: um certo curso de jornalismo e vozes caladas na Amazônia".

Confira no canal do EMERGE a entrevista no programa Programa Comunicação em Movimento 09

 
 
 

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